
Orientação e Mobilidade
A Orientação e Mobilidade é a ciência dentro da habilitação ou reabilitação que permite à pessoa cega ou com baixa visão se deslocar sozinha de um ponto para outro, com autonomia e independência, com o uso da bengala longa. Orientar-se para movimentar-se!
O mestre e especialista em Orientação e Mobilidade da Reabilitação do Braille, professor Eduardo Drezza, explica aqui algumas curiosidades sobre o tema, bengalas e cão guia. Vamos conferir
Bengalas
Você sabia que as bengalas têm três cores distintas? A branca identifica a pessoa com cegueira; a verde, a pessoa com baixa visão; já a branca e vermelha é para uso da pessoa surdocega.
Há bengalas de outras cores, já que não existe a obrigatoriedade do uso padrão, mas a lei federal nº 14.951, de 2024, discorre sobre essas três cores acima.
Uma breve história da bengala verde: uma professora argentina chamada Perla Mayo, cansada de ver seus alunos que enxergavam - mas não o suficiente para andarem sem a bengala - serem indagados por que estavam de bengala, mas conseguirem usar o celular, teve a ideia de colorir a bengala na cor verde para diferenciar esse aluno da pessoa cega.
Curiosidades sobre a bengala longa e a técnica utilizada: em 1945, Richard Hoover, um primeiro tenente oftalmologista do Exército Americano, ao perceber que vários veteranos de guerra voltavam cegos do combate e tinham sua mobilidade reduzida, se propôs a estudar e buscar uma alternativa para a independência desses soldados. Hoover criou uma técnica na qual o usuário cego utilizava um bastão de madeira e, por meio de movimentos laterais desse objeto a frente do corpo, podia perceber os obstáculos e desviar destes, tornando possível uma caminhada segura. Esta técnica é empregada até os dias de hoje.
Altura da bengala: as bengalas devem ser medidas do osso externo até o chão, já que é esse o parâmetro para determinar a largura da passada do ser humano. Por isso, têm a altura correta para cada pessoa.
Orientação e Mobilidade para crianças
A partir do momento em que a criança anda sozinha, tem noção de lateralidade e conhecimento de seu corpo, pode ter início a Orientação e Mobilidade, independentemente da idade.
Nesta fase, porém, ainda não se fala de bengala, mas de “pré-bengala”. São objetos que a criança vai utilizar para se deslocar, mas com base lúdica, como hastes com rodinha na ponta ou bambolês em forma de raquetes.
Por meio da brincadeira e em ambientes controlados e seguros, é estimulado o deslocamento por meio de instruções verbais (“venha na direção dessas palmas”, “da minha voz”, “do som desse sininho”). Os responsáveis devem estar sempre presentes.
Fica aqui uma observação importante: sem a participação efetiva da família não há habilitação ou reabilitação.
Cão-guia
Infelizmente, o cão-guia não é uma realidade no Brasil atualmente. Em um universo de quase 7 milhões de pessoas com deficiência visual, há cerca de 200 cães-guia, sendo a maioria vindo de fora do País.
A condição básica para se ter um cão-guia é ter feito e concluído o programa de orientação e mobilidade. No Brasil, a lei federal nº 11.126/05 garante ao proprietário de cão-guia legalmente adestrado livre acesso em ambientes de uso coletivo, salvo áreas de alta assepsia, como algumas alas de hospitais, por exemplo.
Não se deve brincar ou oferecer alimento para um cão-guia, pois isso pode distraí-lo de sua função. O contato deve ser feito somente com a autorização do usuário. Quando um cão-guia está sem sua coleira peitoral ele “volta” a ser um cão “normal”; com a anuência de seu dono, é possível fazer contato com o animal.
Uma curiosidade: o cão-guia atende comandos como “procure porta”, “procure escada”, “procure bebedouro”, além de desviar o usuário de obstáculos no solo e aéreos – ações que a bengala não faz.
Outra questão é o aspecto social que o cão traz. Muitas vezes, a pessoa cega, sozinha com sua bengala, é ignorada em pontos de ônibus, mas, se estiver com seu cão, rapidamente conseguirá contato com pessoas ao seu redor.
Sua saúde é responsabilidade do usuário, bem como alimentação e banhos regulares. Além disso, ele deve sempre estar com sua carteira de saúde em dia.
Após oito anos, em média, o cão-guia é aposentado e passa a ser um cão doméstico, já que sua idade não permite guardar todos os comandos aprendidos em seu adestramento. A maioria das escolas dá ao usuário a escolha de manter juntos o cão aposentado e o novo guia.
Conteúdo:
Eduardo Drezza
Professor Mestre Especialista em Orientação e Mobilidade
CREF 025461-G/SP